sábado, 10 de julho de 2010

Irrealidade


Imenso tapete de folhagens coloridas.
Floresta que invade o espaço obscuro da sala...
Deitada, repouso o meu copo nu sobre as flores, sinto na pele o toque suave delas.
Adivinho o teu rosto que emerge da sombra...
Me contemplas.
Tua aproximação causa um estranho alvoroço dentro do meu corpo e é como se milhões de borboletas finalmente conseguissem romper o casulo que as aprisiona e saíssem, asas ainda úmidas, a voar loucamente dentro de mim...
E assim como a mais fina seda, meu corpo vai bebendo os desenhos do tapete... Ramos e flores criam vida e crescem, avançam sobre mim...
Tatuagens.
Mergulhas em mim – pescador de pérolas.  Ruge o mar em nossos corpos e o ar alcança uma intensidade quase insuportável...
Sinto como se toda a minha vida estivesse resumida neste instante irreal...

Cavalos alados, medusas, unicórnios, pombas giras e dragões
emergem do tapete ...
passeiam  em nossos corpos...
Sobrevoam alucinados e dançam freneticamente sobre nossas cabeças...
Uma serpente dourada nos enlaça, nos une ainda mais.
Personagem que nos desvenda e cria.
Recria.
Eternamente.


Helena Jorge

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